domingo, 29 de dezembro de 2013

Vitória!

Já estava marcado para acontecer, apesar de não ter sido sua a decisão.

A denúncia já estava feita, e o rapaz teria que encarar a consequência.
Se a denúncia era verdadeira ou falsa, de nada isso importava.
Esse dilema, por sinal, lhe tirava o sono em algumas noites.
Era ele culpado? E se ele fosse, o que teria levado a isso?
Incerto sobre a veracidade de seu coração,
o rapaz caminha: o mundo lhe parece abafado, quase mudo.

Se existem palavras de coragem de seus amigos, ele não as ouve.
Naquele momento, todo o seu foco está no confronto.
Lembrar do confronto o deixa ainda mais zonzo,
então ele percebe que estava apenas prendendo a sua respiração.
Hábito comum para ele ultimamente,
preferindo privar a sua mente de oxigênio.

Para que colocar a engrenagem para trabalhar, quando se tem medo do produto final?

Ele chega do lado de fora, e não faz mais sentido se a denúncia foi exata ou não.
O julgamento já havia sido feito antes que ele pudesse apresentar quaisquer defesa
O vencedor também já estava declarado. Estava estampado nos olhos serenos,
quase piedosos de seu oponente. Nenhum dos dois sentiriam muito prazer nisso.

Se fosse em outros tempos, outros momentos ou circunstâncias,
talvez o rapaz pudesse sair vitorioso...
Mas de nada adiantaria pensar nisso.
A sua mente, antes vagando dentre as possibilidades, agora estava concentrada
Só uma coisa importava agora: Lutar! - a exclamação aqui é muito importante.

E começa a batalha.
O seu oponente prepara para desferir o primeiro golpe,
mas essa luta é do rapaz, que dita o tom dessa disputa.
Em uma inspiração brilhante, ou apenas tola, ele chama o oponente para cima
O oponente vem com tudo, querendo apenas acabar logo com aquela situação desagradável
O rapaz desvia do primeiro soco.

Jamais em seus sonhos ele esperava conseguir desviar.
Ele percebe que não está mais tão afetado pelo medo, pela incerteza.
Naquele momento, o rapaz sente o leve gosto da vitória.
Naquele momento, o triunfo não está em vencer a luta.
Jamais. A Glória está em lutar. Ele sorri. Ele está em êxtase.

Ele é forte, ele pode ganhar!

Ele é fraco, ele não pode ganhar. Mas ele crê em sua vitória impossível,
o sucesso de ainda estar de pé, disputando por uma verdade incerta,
mas desesperadamente disputando. Ele desfere seu soco.
Não é o soco que ele gostaria de dar, que ele estava treinando para dar.
É um soco desajeitado, não calculado, sequer foi pensado.
Mas ele acerta em cheio. Ele tocou na alma, porém não deixou hematomas.

Em sua mente, e apenas em sua mente, o oponente cambaleia.

O oponente não cambaleia. O rapaz ri, triunfante, e leva uma direita no queixo.
Ele apaga antes de cair no chão, mas isso não importa.
O soco de seu oponente foi tão forte, tão veloz, que o rapaz ainda se sente um vencedor.
O último gosto daquele embate que ele levará para si é o sabor da vitória de ter tentado.

Cair lutando, deve ser sobre essa sensação que as histórias dizem.
Ele não lembrará desse acontecimento pela parte onde ele caiu.
Pois ele não caiu derrotado.
Ele acertou aquele soco. E para ele, isso era tudo o que importava.
O último gosto que ele sentiu não foi o gosto metálico de seu sangue.

O último gosto que ele sentiu foi o sabor da superação de ter tentado.




E como foi maravilhoso esse sabor.


Post Mortem
Essa história não é sobre violência, quem assim o achar estará sendo tão tolo e cego
quanto o rapaz.
Rapaz este que por um momento acreditou que venceria o duelo do amor impossível.

Mas o que seria do rapaz sem a sua miopia, sem a sua tolice?

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Voyeurismo de Janela

Estava observando
o quão bela é minha janela
'agora um poema'. Farei rimas
especialmente para ela.

Minha janela rima com amor.
O casal se agarrando, uau!
Tão jovens, sem nenhum pudor.
Mas não me parece ser consensual.

Minha janela rima com assalto
Olha alí, menina, não vê o pivete?
observo, a salvo, aqui do alto
ele puxando o canivete.

Ela também rima com galera:
Todos ali, unidos, debatendo.
'só não machuca ela!'
disse ele no chão. Eles, batendo.

Rima com terceira idade
Olha os velhinhos, que bonitinhos
Falando algo sobre impunidade
levaram suas carteiras, os rapazinhos

Queria achar uma rima boa
para essa janela
mas se repete na mente a frase:
"Para, larga ela!"

Na verdade, nada rima com essa merda de janela
"Imponência" e "incapacidade" não terminam em 'ela'

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Nosso pobre e honesto finado

Não sou muito de escrever em português, mas vamos lá.
Não isso não é um poema. Eu não gosto de poesias.
Entendo elas, mas não fazem o meu tipo.

(Sorry about the post in portuguese, but Im too lazy to make a portuguese blog right now, will do later.)
Era uma vez um brasileiro que decidiu tentar algo diferente.
Ele ia tentar ser honesto de verdade, e bom de verdade.
Ele ia tentar mudar o seu país dando o exemplo.

Ao nascer ele:

brincou em dobro,

se divertiu em dobro,
emprestou dobrado
e teve seu brinquedo roubado.

Leu em dobro,

estudou em dobro,
ajudou os colegas em dobrado,
foi ultrapassado por quem havia colado.

Na adolescência ele

se apaixonou em dobro.
Amou em dobro.
Dedicou-se dobrado...
e foi chifrado.

E então ele cresceu, foi para a faculdade!

Empenhou-se em dobro.
Fez sua parte no grupo em dobro,
fez iniciação, inventou algo novo, se matou dobrado...
e teve todo o seu crédito roubado.

Desistiu da vida acadêmica, foi pro mercado.

Trabalhou em dobro,
levantou a empresa em dobro,
fez o trabalho de seus colegas preguiçosos dobrado...
quem foi promovido foi o filho do chefe safado.

Ao longo de toda a sua vida

nenhuma fila ele furou,
nenhum troco errado ele roubou,
nenhuma paixonite ele chifrou.
Disse isso pro assaltante!
Mas mesmo assim ele atirou.

Na UTI, antes de falecer, o médico o perguntou:

- Valeu a pena ser tão esforçado?
- Ser tão empenhado?
- Chegar ao fim da vida sem nenhum trocado,
para levar um tiro de um ex-detento?

- Se ao menos uma pessoa seguir meu exemplo,

faria de novo de muito bom grado.